segunda-feira, 5 de abril de 2010

ENTREVISTA: Paulo Melgaço e a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa

Mais que um polo de talentos, uma filosofia de vida. Ao menos, é assim que a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO) vem sendo definida ao longo de seus 82 anos de existência. Primeira instituição de dança clássica fundada no Brasil e corpo artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a escola forma, desde 1927, bailarinos profissionais com renome e selo de qualidade internacional.A trajetória, que começou em uma pequena sala no prédio anexo do próprio Theatro, segue até hoje na Rua Visconde de Maranguape, na Lapa. Com o passar das gerações, a instituição vem deixando sua marca pelo mundo por meio de ex-alunos que mostram a técnica e o amor ao balé em palcos de todo o mundo.E para decifrar a jornada oficial da Dança no Brasil, o Conexão Professor convidou o mestre em Educação e professor da EEDMO Paulo Melgaço. Multiplicador do novo conhecimento acerca da história do balé, o educador é também responsável pela pesquisa e consultoria de texto do livro “Um sonho feito de cores - Escola Estadual de Dança Maria Olenewa”. Confira a íntegra da entrevista.
Conexão Professor (CP) - Quem foi Maria Olenewa?
Paulo Melgaço - Maria Olenewa foi uma bailarina russa que, com a Revolução Bolchevista, fugiu com sua família e foi morar em Paris. Lá conheceu Anna Pavlova e se tornou primeira bailarina de sua Companhia. Depois de diversas tournes pela América do Sul, resolveu se estabelecer no Brasil e, em 1927, fundou a primeira escola de dança do Brasil – A Escola de Dança do Theatro Municipal, hoje Escola Estadual de Dança Maria Olenewa.
CP - Preparar os alunos não só para os palcos, mas para a vida. O que consagra os 82 anos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa?
Paulo Melgaço - Penso que são diversos fatores: o amor e respeito pela dança que são transmitidos de geração em geração ao longo destes anos; o ensino de excelência; o desejo de manter a escola viva e atuante. A maioria dos professores da escola foram seus ex-alunos e nutrem um enorme respeito pela tradição e trabalho desenvolvido.
CP - Como é carregar o título de primeira escola de dança clássica fundada no Brasil, representante do Theatro Municipal do Rio de Janeiro?
Paulo Melgaço - É um prazer e uma grande responsabilidade. Daí a nossa preocupação em manter a excelência do ensino da dança e a divulgação da arte e cultura universal.
CP - O que a dança pode produzir humanisticamente? É possível conhecer a si mesmo, aos outros e desenvolver a auto-estima a partir da dança?
Paulo Melgaço – Sim. A dança trabalha a sensibilidade, desenvolve a autoestima e promove o respeito a si e ao outro. Nossos alunos passam pela escola e estão sempre em contato com bailarinos profissionais; eles recebem uma série de aulas teóricas, além das aulas práticas de ballet e danças. Eles podem se expressar através do nosso boletim informativo, assim, essa vivência e convivência com diferentes desperta sua sensibilidade para valores fundamentais nos seres humanos, como respeito, humildade e paciência.
CP - Hoje, quais os principais nomes nacionais da dança clássica brasileira?
Paulo Melgaço - Falar em nomes é muito complicado, podemos esquecer um ou outro. Vou enumerar alguns ex-alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa que construíram sólidas carreiras na dança: Madeleine Rosay, Tamara Capeller, Bertha Rosanova, Dennis Gray, Eleonora Oliosi, Nora Esteves, Arthur Ferreira, David Dupré, Áurea Hammerly, Roberta Marques, Letícia Oliveira, Claudia Mota, Norma Pinna, Márcia Jaqueline, Cícero Gomes, Karina Dias, Eliana Caminada, Beth Oliosi, Teresa Augusta, entre muitos outros.
CP - O Brasil do novo milênio é polo de talentos? Qual a participação da EEDMO neste projeto?Paulo Melgaço - Sim, o Brasil é um grande polo de talentos. Haja vista a quantidade de bailarinos brasileiros que atuam aqui e no exterior. A Escola Estadual de Dança Maria Olenewa é um grande celeiro destes talentos. A cada ano formamos diversos alunos para esse mercado profissional. Temos alunos atuando não só no Corpo de Baile do Theatro Municipal como também em diversas companhias no Brasil e no mundo.
CP - É possível profissionalizar-se na área? Como é o mercado da Dança no Brasil?
Paulo Melgaço - É possível profissionalizar sim... Nosso curso é profissionalizante, basta que o aluno possua talento, determinação, muita vontade, garra e ame a dança. Existe mercado para todo profissional que queria trabalhar e seja versátil. O desejo do bailarino de se profissionalizar não pode estar restrito ao Theatro Municipal. O mercado no exterior absorve muitos de nossos alunos.
CP - Existem projetos com escolas da rede pública de ensino regular?
Paulo Melgaço - Diretamente não existe projeto, mas recebemos todos os anos diversos alunos oriundos das escolas da rede pública: estadual, municipal e federal. Recebemos também diversos alunos oriundos de projetos e ONGs que atuam nas diversas comunidades da cidade e do interior.
CP - Como o trabalho desenvolvido aqui interfere na formação educacional regular do jovem, desenvolvendo-o como cidadão?
Paulo Melgaço - Um dos nossos objetivos é promover e desenvolver a cultura. Aqui, nossos alunos possuem um repertório de disciplinas que, em seu conjunto, visam promover o respeito, a cidadania, valores humanos. Assim, o trabalho desenvolvido pela escola acaba por promover seres humanos melhores, sensíveis às questões sociais e históricas.
CP - Existe um sentimento que agrega o aluno, o ex-aluno e todos que passaram pela Escola? A EEDMO é uma filosofia de vida?
Paulo Melgaço - O sentimento agregador é o amor pela dança. Aqui, estudam gerações e gerações. Um exemplo: a ex-diretora Tânia Granado foi aluna da escola e, posteriormente, trouxe sua filha. Magali Lopi, outra ex-aluna e bailarina do Theatro Municipal, acompanhou sua neta durante todo o seu curso de formação na EEDMO.Aqui, prezamos pela convivência entre as diversas gerações. Valorizamos a memória da dança; incentivamos o respeito ao outro e ao passado como determinante do presente e do futuro. Certamente, a EEDMO é uma filosofia de vida, muitos de nossos alunos passam mais tempo aqui do que em suas casas. Aqui eles dançam, fazem amigos, estudam, se conhecem e se tornam profissionais.
(from: http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/especial.asp?EditeCodigoDaPagina=1252)

Nenhum comentário:

Postar um comentário